segunda-feira, 30 de dezembro de 2013

Canção do Engate - Tiago Bettencourt


Tão boa ou melhor que a original...

Um Feliz 2014





O que eu quero é que 2014 seja um ano de coragem! Sim, coragem! Que se vençam os maiores medos, que se dêem os passos em frente que anseiam ser dados, os recuos necessários ao bem-estar e sensatez, as reconciliações com as imagens que surgem repetidamente ao espelho, a coragem de aceitar cada um segundo a sua individualidade, de nos sabermos colocar no lugar do outro. Daí só poderá advir a felicidade e um mundo verdadeiramente melhor. Depois desejo que amem, que tenham saúde e por favor, vivamos mais, melhor, com paixão! Feliz 2014 e coragem!

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Conversar

Hoje já deitado e envolto nos meus pensamentos, percebi melhor a razão dos meus silêncios, de alguns dos meus silêncios. Percebi que hoje em dia, conversa-se pouco. E eu gosto de conversar. Hoje em dia fala-se, diz-se tudo e de tudo, mas conversar poucos o fazem (ou talvez já poucos o saibam fazer). E ao ler um email que a minha querida amiga G. me mandou, a falar do Natal e da nossa amizade, relembrei-me do quanto gosto de falar com ela, só que a distância, o falatório das pessoas, afastaram-me, de certa forma, dos emails, das sms, etc. No entanto ela tem razão, o sentimento não mudou e eu espero em breve poder sentar-me ao seu lado ou caminhar, enquanto conversarmos, porque conversar, principalmente com pessoas que gostamos muito,  é um dos maiores  prazeres da vida.
E neste Natal que para mim é particularmente triste, pois a avó morreu e para mim o Natal é família, a família mudou muito e a minha avó faz-me falta. Faz-me falta fazer as filhós com ela, faz-me falta fazer um dia de viagem e ao chegar, ela dar-me um abraço apertado e encher-me de beijos de tão feliz que ficava por me ver, faz-me falta ver como todos nos uníamos à sua volta, mas acima de tudo, faz-me falta conversar contigo avó. Por isso, neste Natal, não posso deixar de estar grato às pessoas que conversam regularmente comigo, que me preenchem, que me acolhem, que me acompanham, agora e também no passado. Deixo um especial beijinho e agradecimento à amiga G. que tanto me ajudou e apoiou, mas também, à amiga Elisabete, que me oferece toda a sua generosidade e confiança e uma amizade que me emociona bastante.

quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

A insustentável desfaçatez do ser!



Há alguns dias atrás, andava eu pelo Youtube a ver alguns vídeos de entrevistas antigas dos nossos políticos e achei esta pérola. Confesso, que seria para muitos hilariante, se não causasse tanta repulsa. Assumidamente, sou um grande crítico de Paulo Portas. Personifica o que de pior há na política, a desfaçatez, a posição camaleónica de se transmutar no que mais lhe convém, a falta de palavra, os jogos baixos, os ataques mesquinhos a outros políticos, o criar notícias e burburinho, a arrogância desmedida, a demagogia entranhada e bafienta e por fim, o vazio, o grande vazio que é, fruto talvez de uma ambição desmedida, sem olhar a meios para alcançar os fins. Lamento Dr. Paulo Portas, mas já que elege Winston Churchill como o seu político favorito, digo-lhe que está longe de ser algum dia o Estadista que Churchill foi.

Este vídeo pode ser dividido em 3 partes: a primeira onde Portas fala de política e das suas ideias e convicções, a segunda onde ataca violentamente Cavaco Silva e a terceira onde fala sobre o jornal O Independente e sobre a sua visão de jornalismo.

Na primeira destaco estes excertos:

Paulo Portas: "Os Partidos são uma maçada, (...) e ser militante de um partido é uma grande maçada, porque, normalmente, quem vai para os partidos, (...) os quadros dos partidos, normalmente, são muito medíocres, são pessoas muito medíocres que não têm mais nada que fazer na vida ou que acham que aquela é a forma principal de subir na vida. A mim não me passa pela cabeça nem ir para um partido subir na vida... Os partidos dispensam o mérito."

"Entrevistadora: Não tens ambições políticas?

Paulo Portas: Nenhumas, é uma coisa que eu decidi na minha cabeça, se há coisas definitivas na minha vida e na minha cabeça, uma delas é essa. Eu gosto imenso de política, mas nunca farei política."  
(Pois é Dr. Portas, nós já sabemos o peso que o senhor dá às palavras, sejam elas "definitivo" ou "irrevogável"...)

P.P. : "Eu sou totalmente liberal do ponto de vista económico, mas não me passa pela cabeça aceitar, por exemplo, a União Política da Europa em consequência da União Económica da Europa. Eu não aceito que uma utopia liberal, que aliás não é liberal, a Europa em termos reais não é liberal, é muito burocrática, muito regulamentadora e muito socialista, no sentido filosófico do termos. Eu não aceito que uma utopia de mercado de 320 milhões de pessoas dê cabo da ideia de nação ou dê cabo da ideia de Pátria." 
(Meu caro amigo, ao vivermos numa época onde não há regulação dos mercados desde Thatcher e Reagan, nós estamos à mercê dos mercados, e à sua auto-regulação desenfreada, por isso os nossos juros sofrem tanto meu amigo. E consequentemente, as pessoas e o país. Já não é uma utopia de mercado é uma realidade, que actualmente subscreve.)

Na segunda parte, onde vai bem longe nas críticas a Cavaco Silva:

P.P. : "O Doutor Cavaco Silva é tudo e o contrário de tudo!"

P.P. : Eu acho injustas três comparações que se fazem com o Doutor Cavaco. Acho injusto comparar o Doutor Cavaco com o Dr. Salazar.

Entrevistadora: É injusto para quem?

Paulo Portas: Para o Dr. Salazar em muitas coisas, porque o Doutor Cavaco não é democrata nem deixa de ser. O Dr. Salazar era voluntariamente anti-democrata. Era a opção dele, ou seja, tinha preocupações e pensamento político. O Doutor Cavaco não tem, nessa matéria.  
Em segundo lugar, o Dr. Salazar escrevia admiravelmente, como é sabido (...) e em terceiro lugar era um cínico como eu acho que não se repete na vida política portuguesa, e eu acho, que o Doutor Cavaco, para estabelecer mais duas diferenças: como se sabe não escreve nada de especial nem fala nada de especial, é mesmo muito maçador, e também não é cínico como o Dr. Salazar. Está longe disso, está longe dessa, desse raffinement no exercício do poder.

Quanto à terceira parte, no final do vídeo, não vou destacar nenhum excerto, apenas refiro que é evidente a forma como lida com as notícias, defendendo que a sua interpretação delas é válida e necessária, não aceitando assim críticas de deturpação, mas defendendo-se com a tese da interpretação. Curiosa, esta isenção jornalística...

Ver este vídeo, mostra-nos bem a coerência do nosso vice-primeiro-ministro e a forma como tem passado por entre os pingos da chuva, até ter chegado onde chegou. Aludindo ao título do meu post, é de facto insustentável, tamanha desfaçatez.


quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Nouvelle Vague - In a Manner of Speaking






Tenho andado distante, infelizmente, os estudos, a faculdade e tudo o resto, pouco tempo me deixam para passar por aqui. Como me disse a minha querida professora de Filosofia uma vez: "Francisco, a vida é a sério!". E tem razão!
No entanto, venho cá hoje falar um pouco de música, ou melhor dizendo, falar um pouco de uma das minhas músicas favoritas (e uma das bandas musicais favoritas), das que pertencem ao grupo de músicas da minha vida. In a manner of speaking interpretada pelos Nouvelle Vague, banda francesa que quase exclusivamente interpreta covers de grandes clássicos, de há décadas atrás, tem para mim, uma das letras mais bonitas e que mais me toca, além da melodia da música.
Vou deixar um excerto da música e o link de uma tradução de pouca qualidade, em brasileiro, mas que serve perfeitamente para perceber o sentido da letra, para quem não domina o inglês: 

 http://letras.mus.br/nouvelle-vague/353449/traducao.html 

In a Manner of speaking     
I just want to say
That I could never forget the way
You told me everything
By saying nothing

In a manner of speaking
I don't understand
How love in silence becomes reprimand
But the way that i feel about you
Is beyond words

Oh give me the words
Give me the words
That tell me nothing
Ohohohoh give me the words
Give me the words
That tell me everything

E eu gosto desta música, por falar das palavras, por ser tão metafórica, mas tão verdadeira,  como às vezes se conta tudo, sem dizer nada, olhando, estando perto, ou como outras vezes, tanto falamos, com palavras que nada dizem....

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Tanta miséria...

http://visao.sapo.pt/viver-debaixo-da-ponte=f759101


Quando leio reportagens como esta da Visão, fico quase envergonhado, além de triste, chocado, constrangido, ou melhor dizendo, incrédulo. Choca-me que exista tanta miséria, que tanta gente viva em condições sub-humanas, sem condições de higiene, sem saúde, abrigo, alimentação, sem as condições básicas que a maioria de nós reúne e que na maioria das vezes nem nos apercebemos do quão valiosas são.
Em pleno Século XXI não é este o ideal humanista que tenho, não é este o ideal de sociedade moderna que defendo. Sinto-me numa sociedade de marasmo, entorpecida, sem convicções. E não falo de moralismo. Não. Até porque, sinceramente, penso que na maioria dos casos, aquilo que os moralistas defendem nem são convicções, são outras coisas bem menos úteis.
E quando se fala dos Governos, das medidas austeras na Europa, em Portugal, sem se saber do que se fala, falando só por falar, eu recuso-me a entrar no jogo. Obviamente, que as coisas têm de mudar, que há medidas bem impopulares que vêm para ficar e quem julga o contrário, só pode ser ingénuo ou ignorante. Contudo, nas bocas de toda a gente, pouco se ouve falar destes casos, onde não se discute menos poder de compra ou desencanto com os partidos que governam, isso para estas pessoas não existe. O que existe é a não existência. Ao ver estas pessoas lembro-me do título do livro do Primo Levi - Se isto é um homem. E será? Ainda serão homens e mulheres que ali estão? Onde reside a esperança, o sonho, a dignidade? 
Pesa-me que tudo isto seja ceifado, não só aqui como em todo o mundo. Choca-me que continuem a morrer milhares de pessoas no Zimbabué sob as mãos de um monstro, Mugabe, ou que na Síria debaixo dos olhos de todo o mundo já tenham morrido mais de 100 000 civis inocentes, sem que ninguém ponha termo ao sofrimento daquele povo. 
De facto, penso que se vive com medo. Medo de ver e olhar para o lado, medo de sofrer, medo da dor, medo do que é difícil, medo de se lutar. Uma apatia generalizada, portanto. Porém, não há coragem sem medo e considero que seria possível começar a mudar. Não podemos ter como retrato deste século, rostos de misérias e países desfeitos pela guerra. 

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Paul McCartney - Queenie Eye


Uma boa música do Paul McCartney num vídeo recheado de amigos bem conhecidos. É a prova de que a idade não limita o talento! :)

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Silêncios




Se há coisa que uma pessoa, supostamente sensata, aprende a fazer ao longo da vida, é a fazer uso de silêncios. O silêncio é um dos veículos mais expressivos e inteligentes dos quais dispomos para nos expressarmos. Existem silêncios mudos, outros mais tagarelas e por vezes, existem os intimistas, os de comunhão com o outro, que nos bastam e preenchem o espaço que podia servir de abrigo a palavras e gestos.
Gosto de falar, claro que sim, gosto de comunicar, da conversa com pessoas que a saibam manter viva, que consigam ir passando a bola de um lado para o outro, sem que caia no campo. Gosto da palavra dita. Adoro vozes, deleito-me a ouvir uma boa voz falar, dizer poesia, representar. Gosto de ler em voz alta, por vezes. Contudo, também gosto de silêncios. E isso, é algo que acaba por ser difícil de aceitar e compreender pelas outras pessoas. Muitas delas, confundem-nos permanentemente com tristeza, indiferença, e ainda que um dia ou outro possam coincidir com esses estados de alma, normalmente, são muito mais que isso.
Eu necessito do silêncio. O silêncio é o meu grande companheiro de arrumação e resolução, seja de ideias, de objectivos, recordações, mágoas, desejos, etc. Sempre fui introspectivo, desde pequeno. Sempre pensei muito em silêncio, gosto de andar de carro por isso, gosto de viajar e pensar, enquanto sou conduzido e a paisagem passa tão velozmente ao meu lado como as ideias na minha cabeça. E posso ficar assim horas, sem que me aborreça.
Mas também o belo, o extraordinário, a arte me conduzem ocasionalmente ao silêncio. Quantas e quantas vezes um filme, uma aula de literatura, um poema, um gesto despreocupado e genuíno de uma criança, a bondade humana ou o amor entre duas pessoas, me bastam e dispensam palavras. Não vale a pena acrescentar nada, fica só o essencial, dispensa-se o acessório.
Não gosto de me repetir, quando me pedem a opinião sobre algo, tento ser o mais radical possível, indo ao fundo da questão, sendo coerente com aquilo que penso e defendo. Não costumo usar eufemismos, poupar-me a mim e aos outros de verdades, sendo por isso sincero, ainda que tente não ser deselegante. Principalmente, se for com pessoas que gosto, que me são íntimas. Porém, quando uma e outra vez, depois de já nos termos explicado tão bem, encontramos do outro lado uma resistência tão irracional como patética, onde se sacrifica a coerência, a honestidade e a coragem, que não existe sem medo, há que referir, resta-me o silêncio.
Quando do outro lado encontro alguém que busca inesperadamente meios para chegar a um fim, subterfúgios que justifiquem a fuga constante a uma solução que ainda que possa ser dura, é claramente o caminho, então, calo-me perante tal espectáculo. E calo-me, essencialmente, por respeitar a pessoa, por gostar dela e por já ter dito o que penso, reservo-me a não mais dizer seja o que for sobre tal atitude. Quem procura, sistematicamente, apoio, palavras e soluções e recusa mexer-se seja para que lado for, com medo de se magoar, acaba por perder o crédito. A dor existe. Não vale a pena assobiar para o lado, ignorando-a. Há que perceber o que se pode fazer para curá-la ou aliviá-la, mas fugir na maior parte das vezes, só faz com que o encontro com ela seja mais penoso e demorado. Assim e ainda que discorde muitas das vezes de escolhas destas, respeito as escolhas de cada um, oferecendo o meu silêncio, que evita conflitos e conversas desnecessárias.
E mais uma vez, é o silêncio o meu grande companheiro, que tanto intriga algumas pessoas e me faz dizer – Não reconhecer silêncios em mim, é não me conhecer. E eu, preciso do silêncio para viajar e me (re)encontrar!

domingo, 27 de outubro de 2013

As teias do desejo

Duas aranhas vão tecendo a sua teia, uma em redor da outra, impelindo-as o desejo de se caçarem. Cada uma tece os seus melhores fios, ardilosamente, baloiça-se naquilo que julga ser o ponto em que a outra cairá e dependerá dela. Então, cativa, será refém do seu favor, da sua bondade.
Não existem passos acelerados, é-se tentado a dançar entre medo e desejo, no fio da navalha, perto do abismo. Cada movimentação, cada olhar são envoltos de elegância. E quando se aproximam, sentindo o cheiro uma da outra, chegando até a tocar-se, levemente, a sua racionalidade treme, cada uma sente o impulso de saltar e de devorar quem está à sua frente. Então recuam, brincam mais um pouco, fazem com que os cabos onde se desfilam tremam mais vertiginosamente.  Só que neste jogo, em que não se sabe quem devora e quem é devorado, resta-lhes aproximar-se até não haver fuga... 




terça-feira, 15 de outubro de 2013

E como é importante a colher...


Sei que era ele. Nunca mais vou amar alguém assim, mas não é grave. Eu dou conta do recado. Sei que, normalmente, só mais tarde é que conhecemos a nossa alma gémea. Mas azar, aconteceu-me agora aos 25 anos. Nem tem a ver com sexo. Eu quero lá saber de sexo. Não é essa a questão principal. O importante é acordar ao lado de alguém. Dormir em colher. Isso é que é importante, a colher. Saber que se aparecer um tipo mau está lá alguém. É uma metáfora. Os maus nunca aparecem. Acordamos com o vento, sentimos a barriga quente da pessoa que nos ama a respirar contra as nossas costas. Isso é que é a colher. 

Diálogo do filme: Les Amours Imaginaires




 

domingo, 6 de outubro de 2013

De tão simples, é bonito!



Ontem depois de ler uma notícia da TVI 24  sobre este vídeo ( http://www.tvi24.iol.pt/503/acredite-se-quiser/cadela-buenos-aires-animais-himalaya-sindrome-de-down-hernan/1496466-4088.html  ) não pude deixar de o partilhar aqui. É a junção de dois seres fascinantes: uma criança e um animal. Neste caso um menino com Síndrome de Down e uma cadela. Não me impressiono facilmente com vídeos assim, mas gostei deste. Segundo a mãe do menino, ele não gosta de ser agarrado, que o abracem, então, a cadela, não desiste de receber carinho dele o tempo todo e nem com todos os esforços dela para afastá-la, ela desiste, acabando por no fim receber um abraço da criança. Talvez, às vezes, devêssemos perceber a beleza de gestos assim - simples! E como o carinho, a paciência e a perseverança valem mais do que qualquer outra coisa fabricada.

terça-feira, 24 de setembro de 2013

António Ramos Rosa





Na passada segunda-feira, morreu o poeta António Ramos Rosa.  E hoje, na aula de Literatura do Século XX, logo no início, a Professora, decidiu falar de António Ramos Rosa e confesso que fiquei sensibilizado com o gesto dela. Estava verdadeiramente emocionada, conhecia o poeta e era amiga dele. Trouxe-nos um Ramos Rosa que eu só conhecia por ser Poeta, mas que desconhecia mais aprofundadamente. Foi importante o gesto da Professora, porque sendo uma turma de Erasmus, maioritariamente, na turma ninguém sabia quem era o poeta.


António Ramos Rosa foi um exímio tradutor e ensaísta, tendo sido responsável, por exemplo, pela primeira tradução em Portugal de Paul Éluard, importante poeta francês.

Como ensaísta destaco três grandes obras: Poesia e interrogação do real; A Parede Azul e Poesia e Liberdade Livre.

Fiquei estupefacto com este senhor algarvio que publicou 200 livros e segundo a Professora, tem cerca de 2000 inéditos por publicar! E ainda mais surpreendido fiquei, com o facto de desde os 20 anos até quase ao final da sua vida, sensivelmente, entre os 87 e os 88, escrevia 8 poemas por dia, em média. Oito poemas... Só um génio!

Deixo um dos principais poemas dele, um dos que a Professora teve a gentileza de fotocopiar  e oferecer aos alunos.

ESTOU VIVO E ESCREVO SOL

Eu escrevo versos ao meio-dia
e a morte ao sol é uma cabeleira
que passa em frios frescos sobre a minha cara de vivo
Estou vivo e escrevo sol

Se as minhas lágrimas e os meus dentes cantam
no vazio fresco
é porque aboli todas as mentiras
e não sou mais que este momento puro
a coincidência perfeita
no acto de escrever e sol

A vertigem única da verdade em riste
a nulidade de todas as próximas paragens
navego para o cimo
tombo na claridade simples
e os objectos atiram suas faces
e na minha língua o sol trépida

Melhor que beber vinho é mais claro
ser no olhar o próprio olhar
a maravilha é este espaço aberto
a rua
um grito
a grande toalha do silêncio verde


E no fim deste poema, vou cometer uma inconfidência e contar uma coisa tão bela, que só poderia ser digna de um poeta. Quando na segunda-feira a filha no leito da morte, pegou num papel e disse “Pai, escreva uma frase que defina a sua vida”, António Ramos Rosa pegou na caneta e escreveu “Estou vivo e escrevo sol” e escrita a frase, morreu... É de ficar sem palavras!

Posto isto, achei que tinha que homenagear na medida do possível, este poeta e prometo que hei-de conhecer a sua obra decentemente. Contudo, temos de dizer desde já – Obrigado António Ramos Rosa, pelo seu contributo para a Poesia e para a Literatura em Portugal.

sábado, 21 de setembro de 2013

E quando o namoro acaba?





Pois é, muitos fazem esta pergunta quando de repente o seu "mais que tudo" decide zarpar. Namoro não é celibato social, no entanto, para muitos, é esse o entendimento que fazem de uma relação amorosa.

Faz-me alguma confusão perceber que há pessoas, nas quais incluo vários amigos, que não entendem que dá para conjugar várias dimensões: amigos, namoro, trabalho, diversão.

Então, a partir do momento em que começam a namorar,  tornam-se siameses do namorado(a) e se vão beber café, vão juntos, se estão em público, não se largam, estão sempre de mãos dadas, sempre colados, o que é no mínimo, enjoativo ou patético. Não são capazes de falar com mais ninguém, tornam-se múmias autênticas e relações de amizade que tinham anos de convívio e partilha ficam reduzidas a silêncios estúpidos de contemplação de uma estupidez ainda maior.

Passa-se a viver só para o outro, o que numas gerações atrás até se poderia entender, mas agora, nem por isso. As amizades vão mirrando até secar, os hobbies, a privacidade, o tempo para estar consigo próprio também desaparecem e depois, quando o namoro acaba, fica um vazio gigante, inabitável.

Surgem aí, verdadeiros bebés, têm de reaprender tudo, começar a gatinhar numa vida que eles próprios fecharam, tentar chegar a amigos que eles afastaram, inequivocamente, e depois, o discurso previsível e ridículo "não devia ter-me isolado", "vivia só para ele ou para ela". Cansa-me essa pequenez, essa tendência para a dependência, para a vitimização. Nós somos o que fazemos da nossa vida. Ninguém tem de se isolar por ser casado, por namorar! E amar, ser íntimo de alguém, não exige uma exibição pública constante de afecto, uma queda no lugar comum. Amar não exige que estejamos sempre colados ao outro. Onde fica a confiança? O respeito? Pior, onde fica a identidade de cada um?

Se calhar nem pensam nisto, de tão atordoados ou adormecidos que ficam no torpor dos seus dias, sempre iguais. Às vezes, parece mesmo que muitos casalinhos trazem consigo o lema de "Orgulhosamente sós!" com tudo o que isso implica. Enfim, mas talvez seja para sempre...


E o último podia ter sido assim...


terça-feira, 17 de setembro de 2013

morreste-me...


Tinha planeado falar de Peixoto e das suas obras, começando pelo Livro, a primeira obra que li dele. No entanto, e talvez porque a vida bate muitas vezes ao lado daquilo que planeamos, vou falar da segunda obra que li dele e a primeira que ele escreveu – morreste-me . A seu tempo, provavelmente, já no próximo post, falarei do Livro e da minha opinião mais aprofundada sobre o autor.
morreste-me é uma obra avassaladora, forte e comovente, tornando-se duro caminhar ao longo das linhas deste livro. Contudo, arrisco-me a dizer que só quem já perdeu alguém muito importante, conseguirá compreender a dor e saudade, a gratidão e o amor que José Luís Peixoto sente em relação ao pai e transparece na  sua escrita.
Para mim, morreste-me é um regresso ao que foi e deixou de ser, uma viagem para o que é e permanecerá. E é também um retrato de quanto a dor é íntima e por vezes, se calhar, sempre, incompreensível, particular. “Deixaste-te ficar em tudo.” também eu poderia dizer o mesmo de ti, avó... Passaram-se quase oito meses e só aqui, nos livros, encontro compreensão e sentido àquilo que sinto, às lágrimas que não cessam tão facilmente com o passar do tempo. A dor amadurece, mas a saudade intensifica, é estranho. Tenho saudades tuas avó, saudades de te ouvir ao telefone a perguntares se vão bem os estudos, se apanho muito frio quando saio das aulas ao final do dia, saudades de te ouvir dizer “gosto muito de ti meu amor”, “a avó reza muito por ti” e para mim, esta oração era automaticamente convertida em carinho e amor, aconchego. O importante não são avé-marias e pais nossos, o importante são os desejos e as preocupações daquela senhora com quem dormi muitos anos na mesma cama, sempre que a visitava e me aquecia os pés e as mãos sempre frios. Adormecia a ouvi-la rezar e sentia-me sempre protegido. Fazes-me falta... Desculpa avó, mas só agora consigo voltar a escrever algumas palavras sobre ti e o esforço é enorme “Dentro de mim, tu sabes, a dor constante a dor constante”. Quando morreste, escrevi isto:

Esta noite, morreu uma das mulheres da minha vida. A senhora que me ensinou a fazer os primeiros desenhos, que me contava histórias, que brincava comigo, que me ensinou os números e as primeiras letras. A doce e ternurenta senhora com quem dormi até muito tarde, na mesma cama, sempre que a visitava e que me aquecia as mãos bem junto a ela, enquanto a ouvia a rezar o terço. A velhota que me mimava e me fazia doces e bolinhos, botas e camisolas de lã. A senhora que tinha um enorme orgulho em mim, eu sei. Esta noite a minha avó morreu e eu só posso dizer que nunca a vou esquecer! Um beijo enorme avó! Obrigado por todo o teu amor!


 Muito mais haverá a dizer, mas preciso de tempo, só ele me permitirá conseguir olhar de novo para as tuas fotografias sem chorar, só ele me permitirá conseguir falar sem problemas da tua ausência, de tudo aquilo em que deixaste marca e onde te revejo vezes sem conta. Dá-me tempo avó e descansa, eu vou-me orientar, como diz o José Luís Peixoto ao seu pai:

Descansa, pai, dorme pequenino, que levo o teu nome e as tuas certezas e os teus sonhos no espaço dos meus. Descansa, não vou deixar que te aconteça mal. Não se aflija, pai. Sou forte nesta terra nos meus pés. Sou capaz e vou trabalhar e vou trazer de novo aqui o mundo que foi nosso. Vou mesmo, pai. (...) A tua voz a dizer orienta-te, rapaz. Não se apoquente, pai. Eu oriento-me. Pai, não se preocupe comigo. Eu oriento-me.