Se há coisa que uma
pessoa, supostamente sensata, aprende a fazer ao longo da vida, é a fazer uso
de silêncios. O silêncio é um dos veículos mais expressivos e inteligentes dos
quais dispomos para nos expressarmos. Existem silêncios mudos, outros mais
tagarelas e por vezes, existem os intimistas, os de comunhão com o outro, que
nos bastam e preenchem o espaço que podia servir de abrigo a palavras e gestos.
Gosto de falar,
claro que sim, gosto de comunicar, da conversa com pessoas que a saibam manter
viva, que consigam ir passando a bola de um lado para o outro, sem que caia no
campo. Gosto da palavra dita. Adoro vozes, deleito-me a ouvir uma boa voz falar,
dizer poesia, representar. Gosto de ler em voz alta, por vezes. Contudo, também
gosto de silêncios. E isso, é algo que acaba por ser difícil de aceitar e
compreender pelas outras pessoas. Muitas delas, confundem-nos permanentemente
com tristeza, indiferença, e ainda que um dia ou outro possam coincidir com
esses estados de alma, normalmente, são muito mais que isso.
Eu necessito do
silêncio. O silêncio é o meu grande companheiro de arrumação e resolução, seja
de ideias, de objectivos, recordações, mágoas, desejos, etc. Sempre fui
introspectivo, desde pequeno. Sempre pensei muito em silêncio, gosto de andar
de carro por isso, gosto de viajar e pensar, enquanto sou conduzido e a paisagem
passa tão velozmente ao meu lado como as ideias na minha cabeça. E posso ficar
assim horas, sem que me aborreça.
Mas também o belo,
o extraordinário, a arte me conduzem ocasionalmente ao silêncio. Quantas e
quantas vezes um filme, uma aula de literatura, um poema, um gesto
despreocupado e genuíno de uma criança, a bondade humana ou o amor entre duas
pessoas, me bastam e dispensam palavras. Não vale a pena acrescentar nada, fica
só o essencial, dispensa-se o acessório.
Não gosto de me
repetir, quando me pedem a opinião sobre algo, tento ser o mais radical
possível, indo ao fundo da questão, sendo coerente com aquilo que penso e
defendo. Não costumo usar eufemismos, poupar-me a mim e aos outros de verdades,
sendo por isso sincero, ainda que tente não ser deselegante. Principalmente, se
for com pessoas que gosto, que me são íntimas. Porém, quando uma e outra vez,
depois de já nos termos explicado tão bem, encontramos do outro lado uma
resistência tão irracional como patética, onde se sacrifica a coerência, a
honestidade e a coragem, que não existe sem medo, há que referir, resta-me o
silêncio.
Quando do outro
lado encontro alguém que busca inesperadamente meios para chegar a um fim,
subterfúgios que justifiquem a fuga constante a uma solução que ainda que possa
ser dura, é claramente o caminho, então, calo-me perante tal espectáculo. E
calo-me, essencialmente, por respeitar a pessoa, por gostar dela e por já ter
dito o que penso, reservo-me a não mais dizer seja o que for sobre tal atitude.
Quem procura, sistematicamente, apoio, palavras e soluções e recusa mexer-se
seja para que lado for, com medo de se magoar, acaba por perder o crédito. A
dor existe. Não vale a pena assobiar para o lado, ignorando-a. Há que perceber o
que se pode fazer para curá-la ou aliviá-la, mas fugir na maior parte das
vezes, só faz com que o encontro com ela seja mais penoso e demorado. Assim e
ainda que discorde muitas das vezes de escolhas destas, respeito as escolhas de
cada um, oferecendo o meu silêncio, que evita conflitos e conversas desnecessárias.
E mais uma vez, é o silêncio o meu grande
companheiro, que tanto intriga algumas pessoas e me faz dizer – Não reconhecer
silêncios em mim, é não me conhecer. E eu, preciso do silêncio para viajar e me (re)encontrar!
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