quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Tanta miséria...

http://visao.sapo.pt/viver-debaixo-da-ponte=f759101


Quando leio reportagens como esta da Visão, fico quase envergonhado, além de triste, chocado, constrangido, ou melhor dizendo, incrédulo. Choca-me que exista tanta miséria, que tanta gente viva em condições sub-humanas, sem condições de higiene, sem saúde, abrigo, alimentação, sem as condições básicas que a maioria de nós reúne e que na maioria das vezes nem nos apercebemos do quão valiosas são.
Em pleno Século XXI não é este o ideal humanista que tenho, não é este o ideal de sociedade moderna que defendo. Sinto-me numa sociedade de marasmo, entorpecida, sem convicções. E não falo de moralismo. Não. Até porque, sinceramente, penso que na maioria dos casos, aquilo que os moralistas defendem nem são convicções, são outras coisas bem menos úteis.
E quando se fala dos Governos, das medidas austeras na Europa, em Portugal, sem se saber do que se fala, falando só por falar, eu recuso-me a entrar no jogo. Obviamente, que as coisas têm de mudar, que há medidas bem impopulares que vêm para ficar e quem julga o contrário, só pode ser ingénuo ou ignorante. Contudo, nas bocas de toda a gente, pouco se ouve falar destes casos, onde não se discute menos poder de compra ou desencanto com os partidos que governam, isso para estas pessoas não existe. O que existe é a não existência. Ao ver estas pessoas lembro-me do título do livro do Primo Levi - Se isto é um homem. E será? Ainda serão homens e mulheres que ali estão? Onde reside a esperança, o sonho, a dignidade? 
Pesa-me que tudo isto seja ceifado, não só aqui como em todo o mundo. Choca-me que continuem a morrer milhares de pessoas no Zimbabué sob as mãos de um monstro, Mugabe, ou que na Síria debaixo dos olhos de todo o mundo já tenham morrido mais de 100 000 civis inocentes, sem que ninguém ponha termo ao sofrimento daquele povo. 
De facto, penso que se vive com medo. Medo de ver e olhar para o lado, medo de sofrer, medo da dor, medo do que é difícil, medo de se lutar. Uma apatia generalizada, portanto. Porém, não há coragem sem medo e considero que seria possível começar a mudar. Não podemos ter como retrato deste século, rostos de misérias e países desfeitos pela guerra. 

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

Paul McCartney - Queenie Eye


Uma boa música do Paul McCartney num vídeo recheado de amigos bem conhecidos. É a prova de que a idade não limita o talento! :)

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Silêncios




Se há coisa que uma pessoa, supostamente sensata, aprende a fazer ao longo da vida, é a fazer uso de silêncios. O silêncio é um dos veículos mais expressivos e inteligentes dos quais dispomos para nos expressarmos. Existem silêncios mudos, outros mais tagarelas e por vezes, existem os intimistas, os de comunhão com o outro, que nos bastam e preenchem o espaço que podia servir de abrigo a palavras e gestos.
Gosto de falar, claro que sim, gosto de comunicar, da conversa com pessoas que a saibam manter viva, que consigam ir passando a bola de um lado para o outro, sem que caia no campo. Gosto da palavra dita. Adoro vozes, deleito-me a ouvir uma boa voz falar, dizer poesia, representar. Gosto de ler em voz alta, por vezes. Contudo, também gosto de silêncios. E isso, é algo que acaba por ser difícil de aceitar e compreender pelas outras pessoas. Muitas delas, confundem-nos permanentemente com tristeza, indiferença, e ainda que um dia ou outro possam coincidir com esses estados de alma, normalmente, são muito mais que isso.
Eu necessito do silêncio. O silêncio é o meu grande companheiro de arrumação e resolução, seja de ideias, de objectivos, recordações, mágoas, desejos, etc. Sempre fui introspectivo, desde pequeno. Sempre pensei muito em silêncio, gosto de andar de carro por isso, gosto de viajar e pensar, enquanto sou conduzido e a paisagem passa tão velozmente ao meu lado como as ideias na minha cabeça. E posso ficar assim horas, sem que me aborreça.
Mas também o belo, o extraordinário, a arte me conduzem ocasionalmente ao silêncio. Quantas e quantas vezes um filme, uma aula de literatura, um poema, um gesto despreocupado e genuíno de uma criança, a bondade humana ou o amor entre duas pessoas, me bastam e dispensam palavras. Não vale a pena acrescentar nada, fica só o essencial, dispensa-se o acessório.
Não gosto de me repetir, quando me pedem a opinião sobre algo, tento ser o mais radical possível, indo ao fundo da questão, sendo coerente com aquilo que penso e defendo. Não costumo usar eufemismos, poupar-me a mim e aos outros de verdades, sendo por isso sincero, ainda que tente não ser deselegante. Principalmente, se for com pessoas que gosto, que me são íntimas. Porém, quando uma e outra vez, depois de já nos termos explicado tão bem, encontramos do outro lado uma resistência tão irracional como patética, onde se sacrifica a coerência, a honestidade e a coragem, que não existe sem medo, há que referir, resta-me o silêncio.
Quando do outro lado encontro alguém que busca inesperadamente meios para chegar a um fim, subterfúgios que justifiquem a fuga constante a uma solução que ainda que possa ser dura, é claramente o caminho, então, calo-me perante tal espectáculo. E calo-me, essencialmente, por respeitar a pessoa, por gostar dela e por já ter dito o que penso, reservo-me a não mais dizer seja o que for sobre tal atitude. Quem procura, sistematicamente, apoio, palavras e soluções e recusa mexer-se seja para que lado for, com medo de se magoar, acaba por perder o crédito. A dor existe. Não vale a pena assobiar para o lado, ignorando-a. Há que perceber o que se pode fazer para curá-la ou aliviá-la, mas fugir na maior parte das vezes, só faz com que o encontro com ela seja mais penoso e demorado. Assim e ainda que discorde muitas das vezes de escolhas destas, respeito as escolhas de cada um, oferecendo o meu silêncio, que evita conflitos e conversas desnecessárias.
E mais uma vez, é o silêncio o meu grande companheiro, que tanto intriga algumas pessoas e me faz dizer – Não reconhecer silêncios em mim, é não me conhecer. E eu, preciso do silêncio para viajar e me (re)encontrar!