Quando leio reportagens como esta da Visão, fico quase envergonhado, além de triste, chocado, constrangido, ou melhor dizendo, incrédulo. Choca-me que exista tanta miséria, que tanta gente viva em condições sub-humanas, sem condições de higiene, sem saúde, abrigo, alimentação, sem as condições básicas que a maioria de nós reúne e que na maioria das vezes nem nos apercebemos do quão valiosas são.
Em pleno Século XXI não é este o ideal humanista que tenho, não é este o ideal de sociedade moderna que defendo. Sinto-me numa sociedade de marasmo, entorpecida, sem convicções. E não falo de moralismo. Não. Até porque, sinceramente, penso que na maioria dos casos, aquilo que os moralistas defendem nem são convicções, são outras coisas bem menos úteis.
E quando se fala dos Governos, das medidas austeras na Europa, em Portugal, sem se saber do que se fala, falando só por falar, eu recuso-me a entrar no jogo. Obviamente, que as coisas têm de mudar, que há medidas bem impopulares que vêm para ficar e quem julga o contrário, só pode ser ingénuo ou ignorante. Contudo, nas bocas de toda a gente, pouco se ouve falar destes casos, onde não se discute menos poder de compra ou desencanto com os partidos que governam, isso para estas pessoas não existe. O que existe é a não existência. Ao ver estas pessoas lembro-me do título do livro do Primo Levi - Se isto é um homem. E será? Ainda serão homens e mulheres que ali estão? Onde reside a esperança, o sonho, a dignidade?
Pesa-me que tudo isto seja ceifado, não só aqui como em todo o mundo. Choca-me que continuem a morrer milhares de pessoas no Zimbabué sob as mãos de um monstro, Mugabe, ou que na Síria debaixo dos olhos de todo o mundo já tenham morrido mais de 100 000 civis inocentes, sem que ninguém ponha termo ao sofrimento daquele povo.
De facto, penso que se vive com medo. Medo de ver e olhar para o lado, medo de sofrer, medo da dor, medo do que é difícil, medo de se lutar. Uma apatia generalizada, portanto. Porém, não há coragem sem medo e considero que seria possível começar a mudar. Não podemos ter como retrato deste século, rostos de misérias e países desfeitos pela guerra.