Na passada
segunda-feira, morreu o poeta António Ramos Rosa. E hoje, na aula de Literatura do Século XX,
logo no início, a Professora, decidiu falar de António Ramos Rosa e confesso
que fiquei sensibilizado com o gesto dela. Estava verdadeiramente emocionada,
conhecia o poeta e era amiga dele. Trouxe-nos um Ramos Rosa que eu só conhecia
por ser Poeta, mas que desconhecia mais aprofundadamente. Foi importante o
gesto da Professora, porque sendo uma turma de Erasmus, maioritariamente, na turma ninguém sabia quem era o poeta.
António Ramos Rosa
foi um exímio tradutor e ensaísta, tendo sido responsável, por exemplo, pela
primeira tradução em Portugal de Paul Éluard, importante poeta francês.
Como ensaísta
destaco três grandes obras: Poesia e
interrogação do real; A Parede Azul e Poesia
e Liberdade Livre.
Fiquei estupefacto
com este senhor algarvio que publicou 200 livros e segundo a Professora, tem
cerca de 2000 inéditos por publicar! E ainda mais surpreendido fiquei, com o
facto de desde os 20 anos até quase ao final da sua vida, sensivelmente, entre
os 87 e os 88, escrevia 8 poemas por dia, em média. Oito poemas... Só um génio!
Deixo um dos
principais poemas dele, um dos que a Professora teve a gentileza de
fotocopiar e oferecer aos alunos.
ESTOU
VIVO E ESCREVO SOL
Eu
escrevo versos ao meio-dia
e
a morte ao sol é uma cabeleira
que
passa em frios frescos sobre a minha cara de vivo
Estou
vivo e escrevo sol
Se
as minhas lágrimas e os meus dentes cantam
no
vazio fresco
é
porque aboli todas as mentiras
e
não sou mais que este momento puro
a
coincidência perfeita
no
acto de escrever e sol
A
vertigem única da verdade em riste
a
nulidade de todas as próximas paragens
navego
para o cimo
tombo
na claridade simples
e
os objectos atiram suas faces
e
na minha língua o sol trépida
Melhor
que beber vinho é mais claro
ser
no olhar o próprio olhar
a
maravilha é este espaço aberto
a
rua
um
grito
a
grande toalha do silêncio verde
E no fim deste poema,
vou cometer uma inconfidência e contar uma coisa tão bela, que só poderia ser
digna de um poeta. Quando na segunda-feira a filha no leito da morte, pegou num
papel e disse “Pai, escreva uma frase que defina a sua vida”, António Ramos
Rosa pegou na caneta e escreveu “Estou vivo e escrevo sol” e escrita a frase,
morreu... É de ficar sem palavras!
Posto isto, achei
que tinha que homenagear na medida do possível, este poeta e prometo que hei-de
conhecer a sua obra decentemente. Contudo, temos de dizer desde já – Obrigado António
Ramos Rosa, pelo seu contributo para a Poesia e para a Literatura em Portugal.