terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Parabéns!


Hoje farias 89 anos... Há um ano atrás liguei-te e estavas tão feliz,  cansada e velhinha, mas feliz. Não falámos muito, aliás o quanto eu lamento que não tenhamos falado mais... Foi mesmo a última vez que falámos, a última vez que ouvi a tua voz,  esse privilégio... Hoje não me esqueço de ti, estaria a teu lado ou à distância de um telefonema, para te dar os Parabéns minha querida Avó... E eu sei o quanto ficarias aflita por estar tão triste, mas esta é dor que nunca tinha sentido e é tão grande... Parabéns Avó, para mim, hoje, é mais um aniversário teu.



E esta é a minha música para ti, porque gosto de ti e porque gosto de Maria Callas, que muitas vezes cantou tristeza de forma tão bela e que acabou triste.


segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Futuro cardeal diz que homossexualidade é "deficiência" - Globo - DN

Futuro cardeal diz que homossexualidade é "deficiência" - Globo - DN



Deficiência é reduzir a sexualidade à procriação! Deficiência é deturpar textos bíblicos durantes anos e anos, começando pela sua tradução dos idiomas originais. E D. Fernando Sebastian, se quiser até saber do que fala em termos de naturalidade e natureza vá-se informar, pois há muitas espécies de animais que lhe farão muita impressão devido aos seus hábitos sexuais, parceiros e à forma como se reproduzem. Logo, reduzir a sexualidade à procriação em humanos é negar a nossa evolução, racionalidade, emotividade e afirmar que afinal, todos nós, devemos ser é estúpidos.

segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

As Coisas de que Eu Gosto - Simone de Oliveira



E chego ao 50.º post com esta maravilhosa música da Simone de Oliveira. Cada vez gosto mais dela, cada vez mais faz parte das "Coisas" que eu gosto. Das coisas que fui partilhando, aqui, ao longo dos últimos meses. Ainda bem que te temos, Simone!

sábado, 11 de janeiro de 2014

Vigílias Nocturnas








Deitado,
Nas amargas vigílias nocturnas
Em que as paredes do quarto
Parecem encolher-se
sobre si próprias,
Perco-me nas profundezas do pensamento,
Onde dúvidas,
imagens e recordações
Vão desfilando
Por meandros
Cada vez mais cavados
Pela mãos da vida
 - A minha
e a daquele que pensa e questiona.
Este último,
é tão meu
como a ilusão de sermos dois.
Percorre cada interstício
na minha cabeça.
Não pára!
E movendo oceanos nestes sulcos escavados
Arranca-me o descanso
e a apatia madrugadora
De quem carece de sonhar.
E não sonhando,
ele imagina e profetiza
até causar dor.
Dor que não sara
mas que se interrompe
quando o torpor  vence o corpo.
E vencido,
deixa-me sozinho
para mais um dia.
Migra,
parte feito barqueiro.
E na noite seguinte,
nasce outra vez
na penumbra.

Francisco Chambel

Loucura para um louco!

Loucura - Florbela Espanca

Tudo cai! Tudo tomba! Derrocada
Pavorosa! Não sei onde era dantes.
Meu solar, meus palácios, meus mirantes!
Não sei de nada, Deus, não sei de nada!...

Passa em tropel febril a cavalgada
Das paixões e loucuras triunfantes!
Rasgam-se as sedas,  quebram-se os diamantes!
Não tenho nada, Deus, não tenho nada!...

Pesadelos de insónia, ébrios de anseio!
Loucura a esboçar-se, a enegrecer
Cada vez mais as trevas do meu seio!

Ó pavoroso mal de ser sozinha!
Ó pavoroso e atroz mal de trazer
Tantas almas a rir dentro da minha!

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

A Confissão de Lúcio - Parte II






Para compreender este romance é fundamental compreender o tema de toda a obra de Mário de Sá-Carneiro e a sua derivação do Modernismo Português. Penso que o grande tema do Modernismo Português é uma certa angústia do "Eu", personificada em Fernando Pessoa com a sua desmultiplicação do Eu, dando origem aos heterónimos; em Almada Negreiros com o "Eu" e a sua relação com a Sociedade evidenciada em Nome de Guerra e em Mário de Sá-Carneiro, com a relação entre o "Eu" e o "Outro".

Mário de Sá-Carneiro brinda-nos em toda a sua obra com o tema central do "Eu" e do "Outro". Um "Eu" decadente e descontente consigo próprio e que vê o seu ideal de perfeição espelhado no "Outro". Então tenta alcançá-lo, possuí-lo e como que por muito que se aproxime, que lhe toque, não chega a possuí-lo, é nos oferecido também um outro tema - que deriva desta relação entre o Eu e o Outro - que é o drama da posse, onde o "Eu" sofre por já não conseguir voltar a si próprio e por não ter alcançado o seu ideal de perfeição. No fundo, este "Eu" está "Aquém" e o "Outro" está "Além".

E "A Confissão de Lúcio" não foge a este tema central, muito pelo contrário - Lúcio representa esse "Eu" decadente que vê no Ricardo, o seu ideal de perfeição. E na impossibilidade de possuí-lo, lidando com a ponte de tédio que leva este "Eu" ao "Outro",  cria Marta, esposa de Ricardo, com quem poderá satisfazer os desejos e ambições, a posse,  que em último caso, com Ricardo seriam impossíveis.
           
Mário de Sá-Carneiro é considerado o Poeta Ícaro, precisamente, devido a este tema, tal como no Mito de Ícaro, onde Ícaro ambiciona voar e aproxima-se demasiado do Sol com as suas asas de cera, que derretem e o lançam numa queda vertiginosa, falhando o seu objectivo de voar em plenitude; este "Eu" também quase possui o "Outro", mas acaba por falhar, por não possuir. 

sábado, 4 de janeiro de 2014

Desculpa Saramago! Tratámos-te tão mal...




Hoje tive a oportunidade de ver pela primeira vez o Filme José & Pilar e posso dizer que fiquei profundamente comovido e pensativo com a história de amor de José e Pilar, com o génio e racionalidade de Saramago, com o seu complexo e refinado sentido de humor e com o desprezo que o seu país teve por ele, além da força e determinação de Pilar. Foste demasiado grande e diferente para seres entendido. Contudo terás o mesmo destino de muitos outros gigantes da Literatura Portuguesa - a tua morte trará a justiça à tua obra e ao teu pensamento! Falo de Portugal, claro! Lá fora foste merecedor das mais variadas honras, Gostavam de ti!

Vou deixar alguns excertos do filme, o primeiro sobre a sua relação com Deus, na qual destaco a presença da parte final do seu sentido de humor, fantástico e depois, dois excertos sobre a sua relação com Pilar Del Río:

1 - "Deus... Onde está? Antigamente, dizia-se: Está no céu. Mas o céu não existe! Não há céu! Não há céu, pá, o que é isso? Céu? Há o espaço. A 13 mil milhões de anos-luz. Imagina, pá! Os limites do Universo encontram-se a 13 mil e 700 milhões de anos-luz... Anos-luz! Onde está Deus? Quem quiser crer, crê e acabou-se. Eu digo alto e bom som que não, não, enfim, para mim não.

E repara que com 83 anos já seria uma boa altura de começar a pensar no futuro. Quer dizer, uma pessoa, durante a vida, pode fazer umas quantas barbaridades a respeito do senhor deus, mas quando chega aos 83 tem de... deveria começar a ter um bocadinho de cuidado com o que diz. 

Mas isso não muda a realidade. A realidade continua a ser igual à de sempre: nascer, viver e morrer, e acabou. Mais nada."

Acerca da relação dele com a Pilar:

2 - "Eu tenho ideias para fazer romances e ela tem ideias para a vida, e eu não sei o que é mais importante. Olha, isto é bonito! Pilar, chega aqui!" (Frase que surgiu a meio de uma entrevista.)

3 - "(...) no outro dia estávamos em casa e a Pilar, estávamos a conversar sobre várias coisas, e a Pilar, a certa altura, perguntou: "Mas vamos lá ver, o que é que tu queres que eu faça?". E eu, que nunca tinha pensado nisso, apesar de nunca ter pensado nisso, tive a resposta pronta e imediata - Continuar-me!"

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

A Confissão de Lúcio - Parte I






A Confissão de Lúcio de Mário de Sá-Carneiro surgiu na minha vida neste semestre quando representou uma das obras de leitura obrigatória de Literatura do Século XX. Embora o génio da Professora e as suas aulas me motivem, o romance, em si mesmo, cativou-me de tal forma, que este é para mim um dos meus romances favoritos, se não, o favorito.

A Confissão de Lúcio é considerado o grande romance do Modernismo Português, ou se formos mais rigorosos, o único, pois tendo em conta que o Modernismo Português acaba por volta de 1919 e este romance foi publicado em 1913 podemos considerar que o outro grande romance ligado ao Modernismo Português - Nome de Guerra de Almada Negreiros escrito em 1925 e editado posteriormente, fica excluído.
             
Seguindo a crítica e a teoria de Tzvetan Todorov que nos fala do fantástico  na literatura assente na tríade: estranho, fantástico e maravilhoso; este romance é uma obra de Literatura Fantástica, não uma confissão ou um romance policial.

Logo no início, a personagem principal, Lúcio, propõe-se a fazer a confissão sobre um crime pelo qual cumpriu pena de prisão, mas que jura não ter cometido. Sá-Carneiro estabelece, então, com o leitor um pacto de verosimilhança, com Lúcio a dizer que vai contar a verdade sobre um crime que não cometeu, ainda que o retrato dessa verdade possa não ser coerente e parecer inverosímil.

E se não fosse um romance embebido do Fantástico, como se entenderia esta história? Lúcio é preso pela morte de Ricardo, seu grande amigo, contudo Lúcio conta que o que se passou naquele dia foi que Ricardo matou a sua esposa, Marta, com um tiro e que de repente, Marta desapareceu e era o cadáver de Ricardo que estava no chão e que o revólver que matara Marta acabara por cair aos pés de Lúcio. Confuso? Talvez, mas belo!