Tu,
Amigo, vem - Almada Negreiros
Tu,
Amigo, vem
Já se foi toda a chama
do nosso último contacto
Necessitarei eu mais de
ti do que tu de mim?
Seria injusto que
eu dependesse mais de alguém
que de mim
não depende tanto.
Não seria então o
que eu penso de nós!
Esperei que se apagasse a chama até ao fim,
vi-a apagar-se a
olhos vistos,
até enfriar a
própria escuridão
e julguei que
apagada a chama
tu estarias de novo
na minha frente.
Porque o não
estarias se a chama era a mesma
e a mesma
escuridão para ambos?
Ter-se-á enganado a chama connosco
ou que acenda por defeito ao nosso contacto?
Responde-me a
isto Amigo
que estou
só aqui
e se tudo for
engano
mais só
ficarei.
Não, amigo
tu és
injusto
eu dou-me
mais do que tu
encontro em ti o que não me dá trabalho procurar
porque te amo.
Aprendo, aprendo
contigo mais do que tu comigo
tu deixas-te
amar
tu deixaste que eu te
ame
que já não posso
arrepender-me
nem dar a
outro este amor
por enquanto,
sem saber do teu.
Se te enganaste,
eu não!
se te enganaste eu
seguirei sem ti
talvez para não
voltar jamais a ninguém
para ficar suspendido da vida como resto do nosso amor
mas tu, verás, o pior
é para ti:
Quem se engana uma vez em amor
jamais terá a certeza
de quando acerta.
Não te desejo
mal nenhum a ti
mas ao
mundo
que deixa
passar tanto engano,
que o
permite
que o
consente
que o
aproveita
e tão
imprudente
como se a
natureza pudesse fazer o mesmo!
Não, não e não
no circo não há
milagres
nenhum palhaço
atravessará o círculo
sem rasgar o
papel!
É o mistério deste meu amor por ti
que põe a viveza
nos meus sentidos
e eu não sou louco a ponto de romper o mistério
a troco de paz
para minha inquietação.
Sou do amor
pertenço-lhe
obedeço-lhe a todas as formas que tomem as suas
ordens
e conheço-lhas
como aos meus dedos.
Não sou como tu,
Amigo
que deixaste o
mundo equivocar
os teus sentidos
e pôr-te
arremedos de sentidos
para mistificar a
mímica.
Amo-te,
amigo
e não te
posso ajudar a teres-te
como eu te tenho no meu
amor por ti.
Atrapalhou-se-te
a vida nas
tuas mãos
mas tu lá estás embrulhado
na tua atrapalhação
e os
curiosos em roda
são os
únicos que têm a certeza de
te safares daí.
Dizes sempre
tudo, Almada... E ao ler isto só pude dizer - Não precisamos de advogados de
defesa, bastam-nos os poetas!
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