Conto de Fadas -
Florbela Espanca
Eu trago-te nas
mãos o esquecimento
Das horas más que
tens vivido, Amor!
E para as tuas
chagas o unguento
Com que sarei a
minha própria dor.
Os meus gestos
são ondas de Sorrento...
Trago no nome as
letras de uma flor...
Foi dos meus
olhos garços que um pintor
Tirou a luz para
pintar o vento...
Dou-te o que
tenho: o astro que dormita,
O manto dos
crepúsculos da tarde,
O sol que é de
oiro, a onda que palpita.
Dou-te, comigo, o
mundo que Deus fez!
- Eu sou Aquela
de quem tens saudade,
A princesa do
conto: "Era uma vez..."
Comecei tarde a
viajar pela poesia da Florbela. E hoje, olhando para estes versos, quase que
sinto o quanto ela era frágil e difícil de entender, para muitos, uma louca.
Mas eu gosto dela... Talvez seja outro louco e a falar tanto de poesia não vou
longe! Devia era ser moralista, cair no lugar comum, ir por ali... Ou talvez
não...
Na primeira
estrofe penso que temos aquilo que as pessoas que nos amam proporcionam - o
esquecimento das horas más que vivemos, o conforto, o unguento de tantas
feridas...
E na segunda
estrofe, temos a Florbela, a Florbela que diz ter gestos de ondas de Sorrento,
região italiana, na província de Nápoles, a Florbela que diz ter no nome as
letras de uma Flor, tendo-as mesmo. A Florbela de olhos verdes que inspira o
pintor para pintar o vento.
E na terceira
estrofe talvez tenhamos aquilo que o amor promete, a vida, o universo que afinal é de todos, o astro que
dormita, talvez uma lua ora cheia ora minguante, a comunhão da luz do lusco-fusco
dos crepúsculos passados em abraço, o sol dourado que nos aquece e a onda do
mar que é a vida arrebatada.
Por fim
"Dou-te, comigo, o mundo que Deus fez!" é o verso que dá razão ao que
acabo de dizer, a vivência do amor na vida proporcionada neste mundo. E sim,
quando se ama alguém, é desse alguém que se tem saudade, Princesa Florbela.
Não sei analisar poemas. No geral, gosto porque gosto :) E gosto de Florbela. Já li imenso sobre ela e a interpretação que existe da sua poesia. E discordo tanto que resolvi ignorar todo o escrito. A sua personalidade tem sido dissecada a partir dos sonetos. E inventada também. Porque às pessoas, em geral, não basta amar a poeta nos versos, querem entender a pessoa através deles. E matam o idílio que pode haver.
ResponderEliminarEu quero e tenho uma Florbela assim inteira e inteiramente desconhecida. E amo nela esse impulso fatalista e nostálgico de um amor encantado. Que não existe. Mas se precisa para continuar vivendo.
Bom Dia para si, Francisco
Compreendo que tenha ficado só com a Florbela, ela é infinitamente melhor que eu na escrita. E eu até posso, estar bem errado. Obrigado pelo comentário e pela visita.
ResponderEliminarNão me fiz entender, Francisco. Falei do que li sobre a poeta e foi retirado pelos estudiosos dos seus sonetos. Você interpretou o soneto; eles interpretaram a própria Florbela através deles, ficcionaram a sua personalidade. Desde o amor impossível ao irmão até ninfomaníaca, uma espécie de despudor opinativo que não partilho.
ResponderEliminarE foi isto que quis dizer:) com pouca arte. Sorry.
Já percebi Just. Pessoalmente, também penso que a Florbela está longe de ser compreendida. Sabe, nem na poesia se perdoa as mulheres, até aí o julgamento é mais feroz.
ResponderEliminarUm dia destes, estava com uma neura daquelas, sentei-me no sofá ao fim do dia e vi o "simplesmente Florbela" todo seguidinho!!! Imagina lá... :) adorei!adorei!adorei! Revi-me em montes de coisas...mas acho que foi por causa do meu estado anímico!!! :)
ResponderEliminar"simplesmente Florbela"?
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