quinta-feira, 13 de junho de 2013

Conto de Fadas - Florbela Espanca


Conto de Fadas - Florbela Espanca

Eu trago-te nas mãos o esquecimento
Das horas más que tens vivido, Amor!
E para as tuas chagas o unguento
Com que sarei a minha própria dor.

Os meus gestos são ondas de Sorrento...
Trago no nome as letras de uma flor...
Foi dos meus olhos garços que um pintor
Tirou a luz para pintar o vento...

Dou-te o que tenho: o astro que dormita,
O manto dos crepúsculos da tarde,
O sol que é de oiro, a onda que palpita.

Dou-te, comigo, o mundo que Deus fez!
- Eu sou Aquela de quem tens saudade,
A princesa do conto: "Era uma vez..."


Comecei tarde a viajar pela poesia da Florbela. E hoje, olhando para estes versos, quase que sinto o quanto ela era frágil e difícil de entender, para muitos, uma louca. Mas eu gosto dela... Talvez seja outro louco e a falar tanto de poesia não vou longe! Devia era ser moralista, cair no lugar comum, ir por ali... Ou talvez não...

Na primeira estrofe penso que temos aquilo que as pessoas que nos amam proporcionam - o esquecimento das horas más que vivemos, o conforto, o unguento de tantas feridas...

E na segunda estrofe, temos a Florbela, a Florbela que diz ter gestos de ondas de Sorrento, região italiana, na província de Nápoles, a Florbela que diz ter no nome as letras de uma Flor, tendo-as mesmo. A Florbela de olhos verdes que inspira o pintor para pintar o vento.

E na terceira estrofe talvez tenhamos aquilo que o amor promete, a vida,  o universo que afinal é de todos, o astro que dormita, talvez uma lua ora cheia ora minguante, a comunhão da luz do lusco-fusco dos crepúsculos passados em abraço, o sol dourado que nos aquece e a onda do mar que é a vida arrebatada.

Por fim "Dou-te, comigo, o mundo que Deus fez!" é o verso que dá razão ao que acabo de dizer, a vivência do amor na vida proporcionada neste mundo. E sim, quando se ama alguém, é desse alguém que se tem saudade, Princesa Florbela.

6 comentários:

  1. Não sei analisar poemas. No geral, gosto porque gosto :) E gosto de Florbela. Já li imenso sobre ela e a interpretação que existe da sua poesia. E discordo tanto que resolvi ignorar todo o escrito. A sua personalidade tem sido dissecada a partir dos sonetos. E inventada também. Porque às pessoas, em geral, não basta amar a poeta nos versos, querem entender a pessoa através deles. E matam o idílio que pode haver.
    Eu quero e tenho uma Florbela assim inteira e inteiramente desconhecida. E amo nela esse impulso fatalista e nostálgico de um amor encantado. Que não existe. Mas se precisa para continuar vivendo.

    Bom Dia para si, Francisco

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  2. Compreendo que tenha ficado só com a Florbela, ela é infinitamente melhor que eu na escrita. E eu até posso, estar bem errado. Obrigado pelo comentário e pela visita.

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  3. Não me fiz entender, Francisco. Falei do que li sobre a poeta e foi retirado pelos estudiosos dos seus sonetos. Você interpretou o soneto; eles interpretaram a própria Florbela através deles, ficcionaram a sua personalidade. Desde o amor impossível ao irmão até ninfomaníaca, uma espécie de despudor opinativo que não partilho.
    E foi isto que quis dizer:) com pouca arte. Sorry.

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  4. Já percebi Just. Pessoalmente, também penso que a Florbela está longe de ser compreendida. Sabe, nem na poesia se perdoa as mulheres, até aí o julgamento é mais feroz.

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  5. Um dia destes, estava com uma neura daquelas, sentei-me no sofá ao fim do dia e vi o "simplesmente Florbela" todo seguidinho!!! Imagina lá... :) adorei!adorei!adorei! Revi-me em montes de coisas...mas acho que foi por causa do meu estado anímico!!! :)

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