sábado, 20 de junho de 2015

A felicidade como mito!

Quase um ano se passou, sem que por aqui deixasse qualquer palavra. Não sei ainda muito bem o que dizer. Sei que durante um ano tive de viver, lutar e avançar para atravessar uma ponte que inesperadamente me tornou tão diferente. Exilei-me. Desde Novembro que não durmo na casa dos meus pais, claro que os vejo semanalmente, mas a terra onde cresci, essa já não é a minha terra. Relativizo esse conceito - a "minha" terra. A terra não é de ninguém. Estou sozinho, no apartamento onde vivo, são as festas na terra, essa tal onde cresci, e não sinto quaisquer saudades, nem qualquer mágoa ou tristeza. Simplesmente já não me encaixo ali. Tento trabalhar. Leio Dom Casmurro de Machado de Assis, estou atrasado na leitura, não me apetece estudar para um exame de melhoria mas, paradoxalmente, quero saber mais sobre o Bentinho e a Capitu. 
"Eu tenho a minha loucura / levanto-a como um facho a arder na noite escura" diz José Régio no Cântigo Negro, também eu, tenho a minha loucura, exibe-se naturalmente, não preciso de folcloricamente demonstrá-la.  "Tens um sorriso tão bonito e um olhar tão triste" ouvi isto na semana passada, não foi a primeira vez que o ouvi, nem a primeira vez que fui levado a pensar ou a falar sobre isso. O olhar é a minha transparência, o veículo para o meu âmago. Não se consegue ser plenamente feliz, só se se for tonto. Aliás a felicidade, para mim, é algo demasiado abstracto. Existe a serenidade e a intranquilidade, a euforia e a disforia, a introversão e a extroversão. O "sou feliz" é algo que não digo. Discutia isso com amigos há algumas semanas, ora incrédulos ora curiosos, ouviam-me discorrer sobre a tal "felicidade". Quando se é muito racional e se vê o que nos rodeia, o que realmente somos, seríamos asnáticos se andássemos a dizer "sou feliz". Não. Sou paciente, posso estar alegre, posso ser meigo, doce, terno, sorrir com uma criança, mas não posso toldar tudo o resto. Isto não faz com que me resigne, claro, tenho esperança mas a consciência de que o conhecimento traz dores. Observo a felicidade nos outros, muitas vezes, como uma recusa em reflectir, um comodismo, uma preguiça de se ser, nas mais diversas dimensões. É a resposta, talvez, mais dada à pergunta "O que queres ser?" - "Feliz". Será o medo da dor que leva a maioria a dar tal resposta? Poderá ser. Contudo se me perguntam se vivo com o objectivo de ser feliz, a minha resposta é não. Vivo com o objectivo de tentar, de ser coerente, de crescer, de ser melhor, se isso me fará sorrir e gargalhar permanentemente, é óbvio que não, mas fará com que tente dar respostas à minha inquietação.

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