sexta-feira, 13 de junho de 2014

Lá Fora



Acordar todos os dias é um desafio, principalmente, em dias de mundo inóspito como os de hoje. Dormir é como voltar à barriga da mãe diariamente, para a redoma que nos protege da selva e nos permite ser leves, voar, ter aconchego. É duro acordar e  sentir este miasma acinzentado em que tudo se tornou, pesam as palavras estúpidas e sem sentido, a desfaçatez, o egoísmo, o chico-espertismo, a maldade e a ignorância. Será que a insignificância veio para ficar?
A competição tornou-se escrava da inveja, olha-se para o lado não para conhecer, mas para verificar se existe algum perigo de ultrapassagem nesta corrida desenfreada do nada, um nada que é tudo para a maioria. Ocorre-me a imagem da mão a fechar-se sobre um punhado de areia, bem que podem apertar, domar, mas a areia escapa, não lhes pertence. A ideia da posse envenena tudo, iludirmo-nos com esse poder e desejarmos possuir talvez seja a prova do quanto nos sobrevalorizamos. Então é como se nos víssemos rodeados de pessoas inflacionadas, uma inflação de avareza, inveja e ignorância, que no seu conjunto nada acrescentam de útil aos indivíduos, apenas os redundam na sua frivolidade.

4 comentários:

  1. Um beijinho, Francisco. Amanhã volto:))

    PS: amei a maestrina. acho que tenho de tactear-lhe a totalidade do sentimento e da performance. Por escrito:))

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  2. Boa noite Francisco:)

    É mesmo. Lamento ter que lhe dar razão. Lamento por si. Por mim. Por toda a gente que não escolheu este caminho para o mundo e é nele que tem de andar.

    Mas acredito que um dia vai ser diferente. E melhor. Ainda que não seja eu quem assista.

    Só não concordo consigo numa coisa: quando se põe o ter em vez do ser e se quer possuir em vez de fruir sem posse, é a subvalorização do homem. Desejar a rudeza pesada das coisas e pensar que ela pode tornar-nos melhores... O que se tem está fora de nós; o que se é leva-se connosco a todo o lugar. O maior bem do homem é ir-se fazendo humano.

    Um beijinho

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    1. Just, não é possível que os homens se sobrevalorizem quando colocam o ter em vez do ser e na verdade estejam também ou no fundo, a subvalorizar-se, se virmos os efeitos retroactimente inscritos nessa visão? Mas concordo consigo e fez-me pensar. No entanto fiquei com esta dúvida, não será possível que na medida destes homem se estejam a sobrevalorizar pensando ter um poder que é ilusão e indo de encontro a uma subvalorização humana? Paradoxal? :)

      Beijinhos.

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  3. sim. Creio mesmo que TEMOS RAZÃO OS DOIS:)

    Um beijinho

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