segunda-feira, 2 de setembro de 2013

Insónia de Sophia






1

Se tanto me dói que as coisas passem
É porque cada instante em mim foi vivo
Na luta por um bem definitivo
Em que as coisas de amor se eternizassem.


2

Quem és tu que assim vens pela noite adiante,
Pisando o luar branco dos caminhos,
Sob o rumor das folhas inspiradas?

A perfeição nasce do eco dos teus passos,
E a tua presença acorda a plenitude
A que as coisas tinham sido destinadas.

A história da noite é o gesto dos teus braços,
O ardor do vento a tua juventude,
E o teu andar é a beleza das estradas.


3

Aquelas que exaltadas e secretas
À janela espreitaram inquietas
O rumor do poente nas estradas,
Julgaram vir de ti essa paisagem
Contida na beleza da paisagem.
Solitárias mordendo a sua fome
Percorrem o silêncio dos jardins
E vão gritando às sombras o teu nome.


Não Sophia, não é a senhora que me tira o sono, nem é a senhora que me obriga a gostar de si. Mas lê-la, sabe bem à noite ou de madrugada, quando as nossas palavras não chegam e as suas caem na perfeição enquanto a natureza é rainha, só se ouvindo os melros na sua euforia do amanhecer e escutando-se o silêncio urbano, o calar das gentes que dormem nas suas casas ou que, como eu, se camuflam na quietude da noite. E aí eu percebo a dor do que passou, a dor de que fala, percebo o espanto daquele que vem e que traz a perfeição no eco dos seus passos e percebo aquelas que espreitaram pela janela, talvez atrás da cortina, desesperadas, à espera de alguém imaginário ou concreto, que lhes minguasse a solidão. Há tantas vidas, tantos sonhos, tantas dores e tantos gestos nos versos que se podem ler durante uma noite... E ainda que cada noite acabe, na seguinte ou nalguma próxima, ou mesmo numa noite mais distante, poderemos voltar à magia dos versos sofridos da Florbela Espanca, à ironia refinada do Almada Negreiros ou aos seus mares poéticos, Sophia. A poesia traz possibilidade, tudo se torna possível, verso após verso, e sonhar, torna-se mais plausível, mais acessível. E sobra o melhor... A poesia dá para desabafar... Sim, desabafar! Dizer aquilo que precisamos dizer e não o conseguimos, ouvir aquilo que precisamos ouvir e não nos dizem, conseguimos obtê-lo, lendo poesia. E assim, depois da minha madrugada de desabafos, estou a findar este post e tenho de lhe agradecer Sophia, porque o sono chegou e vou dormir. Talvez sonhe com o mar, esse mar de que tantas vezes me fala, onde cada vaga me poderá embalar no silêncio nocturno.

4 comentários:

  1. Sophya. Sempre.
    Boa tarde?

    ResponderEliminar
  2. Agora será boa tarde :)

    Sim, Sophia sempre... Poesia sempre!

    ResponderEliminar
  3. Francisco

    voltei só para lhe dizer, caso não saiba, que na rtp2, às 21h, diariamente, há um programa sobre grandes livros (e grandes escritores da literatura portuguesa). E ontem foi a vez de Sophya. Não disse mais do que sabemos, mas é sempre bom revê-la. Pode ver nas gravações automáticas:)
    Beijinho

    ResponderEliminar
  4. Just, quero que volte sempre!! :) MUITO OBRIGADO! Não sabia, vou já ver, consigo retroceder na programação e ouvi-la :D

    Beijinhos.

    ResponderEliminar