terça-feira, 24 de setembro de 2013

António Ramos Rosa





Na passada segunda-feira, morreu o poeta António Ramos Rosa.  E hoje, na aula de Literatura do Século XX, logo no início, a Professora, decidiu falar de António Ramos Rosa e confesso que fiquei sensibilizado com o gesto dela. Estava verdadeiramente emocionada, conhecia o poeta e era amiga dele. Trouxe-nos um Ramos Rosa que eu só conhecia por ser Poeta, mas que desconhecia mais aprofundadamente. Foi importante o gesto da Professora, porque sendo uma turma de Erasmus, maioritariamente, na turma ninguém sabia quem era o poeta.


António Ramos Rosa foi um exímio tradutor e ensaísta, tendo sido responsável, por exemplo, pela primeira tradução em Portugal de Paul Éluard, importante poeta francês.

Como ensaísta destaco três grandes obras: Poesia e interrogação do real; A Parede Azul e Poesia e Liberdade Livre.

Fiquei estupefacto com este senhor algarvio que publicou 200 livros e segundo a Professora, tem cerca de 2000 inéditos por publicar! E ainda mais surpreendido fiquei, com o facto de desde os 20 anos até quase ao final da sua vida, sensivelmente, entre os 87 e os 88, escrevia 8 poemas por dia, em média. Oito poemas... Só um génio!

Deixo um dos principais poemas dele, um dos que a Professora teve a gentileza de fotocopiar  e oferecer aos alunos.

ESTOU VIVO E ESCREVO SOL

Eu escrevo versos ao meio-dia
e a morte ao sol é uma cabeleira
que passa em frios frescos sobre a minha cara de vivo
Estou vivo e escrevo sol

Se as minhas lágrimas e os meus dentes cantam
no vazio fresco
é porque aboli todas as mentiras
e não sou mais que este momento puro
a coincidência perfeita
no acto de escrever e sol

A vertigem única da verdade em riste
a nulidade de todas as próximas paragens
navego para o cimo
tombo na claridade simples
e os objectos atiram suas faces
e na minha língua o sol trépida

Melhor que beber vinho é mais claro
ser no olhar o próprio olhar
a maravilha é este espaço aberto
a rua
um grito
a grande toalha do silêncio verde


E no fim deste poema, vou cometer uma inconfidência e contar uma coisa tão bela, que só poderia ser digna de um poeta. Quando na segunda-feira a filha no leito da morte, pegou num papel e disse “Pai, escreva uma frase que defina a sua vida”, António Ramos Rosa pegou na caneta e escreveu “Estou vivo e escrevo sol” e escrita a frase, morreu... É de ficar sem palavras!

Posto isto, achei que tinha que homenagear na medida do possível, este poeta e prometo que hei-de conhecer a sua obra decentemente. Contudo, temos de dizer desde já – Obrigado António Ramos Rosa, pelo seu contributo para a Poesia e para a Literatura em Portugal.

2 comentários:

  1. Bom Dia, Francisco:)

    Tão bom ter uma professora assim. Que sorte é havê-la! Parabéns.
    Já apreciou o incomparável da prenda que vos deu?

    "Estou vivo e escrevo sol", é a verdade do poeta; só ele condensa da vida a essência pura.

    Obrigada a Si, Francisco, pelo post e sua alma de poesia. A Ramos Rosa, pela coragem de ser poeta sem descanso. À professora que abriu mãos e coração e logo as rosas lhe caíram do regaço; a perfumar chão.

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  2. Boa noite, Just. :)

    É verdade, foi de uma generosidade extrema! Não vou esquecer esta aula, apesar de todas as outras, serem cativantes.

    Que verso bonito para findar a vida... Tal como disse, condensou tudo ali, numa frase, ficou a essência...

    Obrigado pelo comentário e achei que era algo bonito que tinha de partilhar, se gostou, fico muito contente. :)

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