segunda-feira, 27 de maio de 2013

Tempo de Poesia - António Gedeão

Tempo de Poesia

Todo o tempo é de poesia.

Desde a névoa da manhã
à névoa do outro dia.

Desde a quentura do ventre
à frigidez da agonia.

Todo o tempo é de poesia.

Entre bombas que deflagram.
Corolas que desdobram.
Corpos que em sangue soçobram.
Vidas que a amar se consagram.

Sob a cúpula sombria
das mãos que pedem vingança.
Sob o arco da aliança
da celeste alegoria.

Todo o tempo é de poesia.

Desde a arrumação do caos
à confusão da harmonia.

António Gedeão


Gosto muito deste poema do António Gedeão. Confesso-me cansado de referirem a cultura, a arte, a literatura e a poesia como inutilidade. E sim, todo o tempo é de poesia "Desde a quentura do ventre / à frigidez da agonia".  Mas infelizmente, a poesia vê o seu tempo ser ignorado. Porque será? Corre-se cada vez mais, não há tempo para descansar nos versos. Tão pouco para pensar sobre eles. E como muitos dizem - "Os poetas são loucos". Ocorre-me apenas como resposta, um verso de uma música dos Diabo na Cruz - "Os loucos estão certos!".

2 comentários:

  1. Não, não. Defendo o mesmo Francisco, não há tempo sem poesia. Só aguentamos as corridas porque temos espírito de poetas. A poesia é o óleo da nossa engrenagem.
    Mas está certo, estão a desconsiderá-la. Num país de poetas, os próprios são ignorados. Ou mal amados.

    Quando penso no seu percurso e leio o que escreve - e sei como o sente - Francisco, entra-me uma alegria de aconchego. Pode crer.

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  2. Pois é Just e infelizmente, hoje em dia, não são só os poetas a serem desconsiderados... Mas sim, gosto dessa imagem, do espírito de poetas que nos ajuda a avançar - "Pelo sonho é que vamos!".

    A maior alegria, foi ter estado lá, a ver esse mesmo percurso, tão acidentado, como sempre.... :)

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