Margaret Thatcher ( 13 de Outubro de 1925 - 08 de Abril de 2013)
Na segunda-feira
passada, dia 08 de Abril de 2013, faleceu uma das maiores referências políticas
do Mundo Ocidental. Margaret Thatcher revolucionou para sempre o Reino Unido, a
Política e o Mundo. Filha de um merceeiro, desde muito nova foi-lhe incutido o
espírito de trabalho, a noção de que se tinha de ter iniciativa própria e de
que não se podia esperar pela ajuda de outrem para se progredir na vida. Teve
uma educação austera, estudou em Oxford onde se licenciou em Química.
Mas Margaret
Roberts, assim se chamava em solteira,
sempre se sentiu fascinada pela política, pelos discursos que o seu pai fazia
enquanto político local em Grantham e embora, todos lhe dissessem que a
política era algo vedado às mulheres, não se convenceu.
Tentou algumas
vezes tornar-se deputada no Parlamento Inglês, nomeadamente, em 1950 e 1951,
mas não conseguiu reunir votos suficientes. Embora na segunda eleição tenha
aumentado e muito o número de votos, tendo sido a segunda candidata mais
votada.
Entretanto,
casou-se com o empresário Denis Thatcher em 1951, com quem teve dois gémeos,
Carol e Mark em 1953. Graças a este casamento, Margaret Thatcher conseguiu
obter sustento durante as suas iniciativas políticas e pôde também mais tarde
licenciar-se em Direito. Mas que não se pense que foi um casamento por interesse, ao longo dos anos muitos foram os momentos em que o casal testemunhou o seu amor e a sua forte ligação. (Figura 1)
Figura 1
Margaret subiu a
pulso e tornou-se deputada no Parlamento Inglês, tendo lutado contra a
hostilidade dos cavalheiros que a menosprezavam e subestimavam as suas
qualidades intelectuais e políticas.
Mesmo dentro do
seu partido, do início ao fim, nunca reuniu consenso e houve sempre quem não a
aceitasse e a desvalorizasse. Em 1970, Edward Heath líder do Partido
Conservador vence as eleições e forma governo, convidando-a para Ministra da
Educação. No entanto, Edward Heath nunca gostou de Margaret Thatcher e desde
logo a avisou para ser discreta no exercício das suas funções, o que não se
verificou. Thatcher ficou conhecida como sendo uma guerreira na luta pelas suas
ideias e opções e mesmo como Ministra da Educação sempre batalhou nesse
sentido, o que não seria muito bem entendido pelo Primeiro-Ministro Edward
Heath que durante o seu mandato enfrentou inúmeras greves e paralisações
sectoriais, como foi o caso da greve dos mineiros. No entanto, enquanto todo o
governo pensava que a melhor forma de lidar com estas manifestações seria aceder
às exigências sindicais, Margaret Thatcher defendia que se devia fazer o
oposto, enfrentando os sindicatos e assumindo uma postura firme na condução da
política do governo. Não foi ouvida e entre várias dificuldades que o governo
viveu, como os embargos petrolíferos em 1973, Edward Heath perde as eleições em
1974, passando a líder da oposição.
E como líder da
oposição, Edward Heath era cada vez mais contestado e não era visto como o
melhor líder do Partido Conservador, num momento de enorme crise no país.
Assim, Margaret
Thatcher avança em 1975 para liderança do partido e vence as eleições, na
primeira volta derrotando Edward Heath e na segunda volta, derrotando outro
candidato e favorito de Heath - William Whitelaw. Torna-se então, líder do
Partido Conservador a 11 de Fevereiro de 1975, tornando-se a primeira mulher a
liderar um grande partido na Europa. (Figura 2)
Figura 2
Durante o tempo na oposição, foi uma líder feroz, assumindo posições neoliberais,
defendendo a luta contra os sindicatos, a redução do peso do Estado na
Economia, etc. Tudo isto, fez com quem muitas vezes não fosse aceite e tivesse
níveis de popularidade muito baixos. Mesmo assim, a 4 de Maio de 1979, Margaret Thatcher vence
eleições com uma larga maioria e torna-se Primeira-Ministra, sendo pioneira
mais uma vez como mulher neste cargo, em todo o mundo ocidental. (Figura 3)
Figura 3
Thatcher encontra
um país em sérias dificuldades, considerado o "homem doente" da
Europa. Altos níveis de desemprego, uma economia agonizada, a libra em queda, a
inflação galopante, uma indústria ineficiente e uma enorme contestação social.
Assim, contra tudo e todos, Margaret Thatcher
recusou-se ao simples papel de gerir o declínio do país e em vez disso enveredou por um duro
caminho de austeridade com vista à recuperação da grandeza de outrora do Reino Unido, reduzindo o peso do Estado na Economia, fechando todas as unidades industriais
ineficientes, reduzindo a inflação e os benefícios sociais, etc. Muitos a
criticaram, alguns ministros do seu governo tentaram demovê-la, mas para ela
"apesar do remédio ser amargo, o doente precisa dele" e assim
prosseguiu a sua política, conseguindo recuperar a Economia do seu país.
Também ficou
conhecida por ter declarado guerra à Argentina pela ocupação das Ilhas Malvinas
em 1982. Mesmo sendo os EUA aliados do Reino Unido, tentaram demovê-la dizendo
que era escusado lançar uma guerra por um território tão longínquo e
insignificante. Aí Thatcher relembrou aos EUA que o Hawai também era um
território idêntico e que os EUA responderam contra os ataques japoneses em
Pearl Harbor em 1941, deixando-os desarmados. E tendo-se proposto a combater
a Argentina e recuperar a soberania sob as Malvinas, Thatcher saiu vencedora.
Margaret Thatcher também foi apelidada pelos russos de "Dama de Ferro" pela sua persistência e obstinação, o que mais tarde viria a revelar-se decisivo para o fim da Guerra Fria.
Thatcher sairia do cargo de
Primeira-Ministra a 22 de Novembro de 1990 pela mão do seu próprio partido. Ao
longo dos anos e apesar de muitos sucessos, a sua obstinação e firmeza, as
críticas de insensibilidade social e de prepotência fizeram com que o Partido
Conservador quisesse mudar de líder com o objectivo de não perder as eleições
seguintes. Deste modo, o partido convocou eleições internas às quais Margaret
Thatcher venceu na primeira volta com uma ligeira maioria, sendo obrigada a ir
a uma segunda volta. Consciente das suas condições e da previsível derrota na
segunda volta, Margaret Thatcher renuncia ao cargo de Primeira-Ministra, saindo
de Downing Street lavada em lágrimas e não escondendo a mágoa e a revolta de
ter sido afastada não pelo povo, em eleições, mas sim pelos interesses do seu
partido. No fundo, houve conservadores que nunca aceitaram a filha do
merceeiro... (Figura 4)
Figura 4
Saltando agora os aspectos
biográficos, devo dizer que tenho uma profunda admiração por esta grande
senhora e política. Quer se goste ou não dela, temos de reconhecer que Margaret
Thatcher mudou o Mundo e foi uma visionária. Juntamente com Ronald Reagan (Figura 5) fundou o modelo económico instaurado no Ocidente, até aos dias de hoje, baseado
na Economia de Livre Mercado, uma economia onde os mercados se auto-regulam. E
apesar deste aspecto poder estar na base das crises financeiras que se vivem
actualmente, permitiu durante muitos anos, prosperidade económica. Admito que
se possa estar a fechar o ciclo, pois tudo tem um tempo, seja em política ou
economia.
Figura 5
"O remédio é
amargo mas o paciente precisa dele"
Também neste
momento, a crise que se vive em Portugal, as decisões políticas que são
necessária, fazem lembrar a Inglaterra que esperava Margaret Thatcher em 1979.
Seria bom que tivéssemos alguém na condução dos destinos do país com a
determinação dela, na reforma do Estado Social e na redução do Estado na
Economia, só assim o Estado consumirá menos recursos financeiros, nomeadamente
crédito destinado às empresas, permitindo um maior acesso às empresas privadas,
muitas delas PME's, que representam mais de 90% do tecido empresarial
português. Só assim se poderá gerar emprego, além de ser necessário cortar na
despesa do Estado. Este cortes, actualmente, muito contestados são
ABSOLUTAMENTE necessários para que se possa reduzir o nível de fiscalidade
aplicado aos contribuintes portugueses, ou seja, baixar os impostos e só assim,
o Estado terá menos necessidades de financiamento. Veja-se o exemplo da
Inglaterra - só com esta receita conseguiu recuperar economicamente.
Por último, creio
que Margaret Thatcher criticou muitas vezes a União Europeia porque sabia que o
caminho traçado não era o melhor. Thatcher conseguiu ter uma visão muito
alongada do que iria acontecer e a crise europeia e das suas instituições que
se vive hoje, foi muitas vezes anunciada por ela. Penso até, que faz falta na
Europa alguém como Margaret Thatcher, firme e determinada, sem medo de ser incómoda, alguém inteligente e com
visão política, com noção do rumo que toma e como uma posição clara, bem
argumentada e atempada, não uma líder como Angela Merkel, sem visão, sem rumo,
demasiado preocupada com a imagem, sem carisma político e sem noção das
diferenças que separam cada país europeu e que tornam cada país único. É a
grande diferença de Angela Merkel e Margaret Thatcher, enquanto que Merkel quer
copiar a realidade alemã para os países em dificuldades, Thatcher era uma
defensora de uma austeridade inteligente e pormenorizada a par do crescimento
económico e uma profunda conhecedora das diferenças entre países. Aliás dentro
da sua ideologia política Thatcher dizia que o slogan "somos todos
iguais" era demasiado redutor, pois para ela somos todos diferentes e é
nessa diferença que reside o sucesso e a capacidade de nos interligarmos todos
na busca do sucesso. (Figura 6)
Figura 6
Para reflectirmos
acerca da visão dela sobre a Europa, vou deixar um excerto da sua obra A Arte
de Bem Governar editada em 2002 (Figura 7), onde poderemos ver o quanto a sua visão é
actual:
"A Europa é,
realmente, um Estado ou um império de pernas para o ar. Falta-lhe tanto da
substância que está na base da solidez das fundações de um Estado ou de uma
potência imperial, que só consegue subsistir através da satisfação de
interesses instalados, cada vez mais poderosos. Basta deambular um pouco
através da prosa europeia que enforma as directivas, as circulares, os
relatórios, os comunicados e os debates "parlamentares", para se
perceber que, na verdade, Europa é sinónimo de burocracia. É um governo da
burocracia para a burocracia, a que se poderia acrescentar "pela"
burocracia, "com" burocracia, etc. (...) Não: o que faz da Europa o
supra-sumo da burocracia é o facto de que, em
última análise, nada mais tem que a sustente.
As estruturas, os
planos e os programas da União Europeia encontram em si mesmos a razão da sua
própria existência. A Europa é uma variante da asserção cartesiana "Penso,
logo existo", modificada para "Eu existo, logo eu faço"
(...) "
Figura 7
Muito fica por dizer sobre Margaret Thatcher, no entanto, não estando impedido de voltar a escrever sobre ela, deixo aqui o meu contributo para recordar o percurso desta GRANDE senhora.
Não nutro pela senhora um amor particular. Mas reconheço-lhe visão política e plano estratégico. Precisamos de um estratega. Sim. Não sei bem se como ela.
ResponderEliminarMas tudo que ela afirma acerca do estado doentio da Europa, continua verdade. É um diagnóstico inteligente. Logo, e se o seu pensamento subsiste, é que não era tão mau quanto isso.
O nosso país é de brandos costumes e suspeitos políticos. Talvez paremos onde querem os senhores governantes, numa espécie de ditadura muito particular e a que ainda chamam democracia. Creio até que já a vivemos :))
Esqueci-me: Parabéns pelo artigo. Está, na minha modesta opinião, bastante bom :)
ResponderEliminarBFS
Just me,
ResponderEliminarrealmente precisamos de um estratega, que não tem de ser igual a Margaret Thatcher, claro que não. Mas não só a nível nacional, mas sobretudo a nível europeu.
Quanto à admiração que tenho por ela, destaco sobretudo o seu percurso e a sua vontade, ela estudava imenso, preparava-se, antes de ter sido nomeada para o governo, teve um trabalho importantíssimo nunca antes feito, no parlamento, onde passou os orçamentos nacionais, a pente fino. Ficaram estupefactos com a determinação dela. :)
Mas claro que seria mais moderado e mais próximo de outras correntes políticas nalgumas áreas. Daí ser acusada de alguma insensibilidade.
Obrigado pelas palavras simpáticas e de apoio.
E já agora, pela visita.